'Pensei no trabalho da minha mãe e em ajudar', diz
adolescente fotografado dentro de mar com óleo em PE
Everton Miguel dos Anjos, de 13 anos,
ajuda a mãe em um bar na beira-mar de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho, no
Grande Recife. Imagem ganhou repercussão internacional.
Por
Marina Meireles, G1 PE

Menino protege o corpo com sacos de lixo
ao retirar petróleo na praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho, na Região
Metropolitana do Recife — Foto: Leo Malafaia/AFP
“Quando eu vi o
óleo, pensei em várias coisas. Na tristeza, no trabalho da minha mãe e em
ajudar.” Essa declaração é de Everton Miguel dos Anjos, de 13 anos, fotografado
em meio ao óleo que atingiu a Pedra do Xaréu, no Cabo de Santo Agostinho,
no Grande Recife. A imagem
viralizou nas redes sociais e ganhou repercussão internacional como um símbolo
do desastre ambiental no litoral brasileiro.
Além do Cabo,
outras nove cidades pernambucanas tiveram praias manchadas pelo óleo no período
entre 17 de outubro e esta sexta-feira (25): São José da Coroa Grande, Barreiros, Tamandaré, Sirinhaém, Rio Formoso, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes, Paulista e Itamaracá. Até
quinta (24), 1.358 toneladas de resíduos
foram recolhidas do litoral do estado, segundo balanço do
governo.
“Era muito óleo na Pedra do Xaréu. Eu mexi com as luvas, mas tinha muito. Eu não entraria de novo, porque foi muito difícil para tirar. Tiramos com óleo de cozinha depois”, relembra Everton.
Filho da
comerciante Ivaneide Maria de Oliveira, de 36 anos, Everton faltou à escola na
segunda-feira (21) para ajudar a mãe no bar à beira de Itapuama, no Cabo de
Santo Agostinho. O ponto é a única fonte de renda da família e sempre abre aos
fins de semana, mas o feriado estadual de Dia do Comerciário era uma
expectativa de aumentar o faturamento da família.
A realidade, no
entanto, trouxe a dureza de ver a única fonte de renda manchada pelo óleo. “No
fim de semana, a gente foi trabalhar normalmente porque não tinha nada. E na
segunda [21], como o movimento seria grande por causa do feriado, ele foi para
me ajudar. Quando eu vi o óleo, a primeira coisa que pensei foi no comércio”,
contou a mãe do adolescente.

Foto de terça-feira (22) mostra
voluntários retirando óleo da Pedra do Xaréu, no Litoral Sul de Pernambuco —
Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
Trocando o material
de limpeza das mesas do bar pelo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs),
Everton se integrou à força-tarefa montada às pressas para conter o óleo na
Pedra do Xaréu. Já Ivaneide permaneceu em Itapuama.
“Eles [pessoas no local] deram bota, luva, mas serve até certo ponto. A luva é curta e a areia entra na bota, então só adianta se na área em que você estiver for pouco óleo para limpar”, disse a comerciante.

Imagem de segunda (21) mostra
voluntários e equipes da prefeitura do Cabo trabalhando para retirar manchas de
óleo de trecho entre as praias de Itapuama e Pedra do Xaréu — Foto: Pedro de
Paula/Fotoarena via Estadão Conteúdo
Apesar da ajuda
dada pelo filho, a comerciante sentiu medo ao vê-lo com a substância grudada no
corpo. “Ele quis ajudar, eu deixei. Quando eu vi que ele estava coberto de
óleo, reclamei com ele porque fiquei preocupada. Graças a Deus ele não teve
nada”, afirmou Ivaneide.
Essa foi a última
vez que mãe e filho estiveram na praia. “Não fomos depois por causa da passagem
[de ônibus]”, disse Ivaneide, que mora com Everton, o esposo, dois filhos de 18
e 20 anos, a nora e um neto em uma casa localizada em Ponte dos Carvalhos, no
Cabo.
Para o sábado (26),
dia em que o bar normalmente abre, não há previsão de funcionamento. “Vamos só
no domingo, tentar tirar o lucro com água, água de coco, refrigerante, batata
frita e calabresa”, contou a mãe do adolescente, diante das recomendações de
pesquisadores para suspensão de consumo dos frutos do mar que ela costuma
vender.
“O pessoal não vai
mais querer marisco, caranguejo, peixe, sururu e caldinho de polvo. Foi um
desespero e ainda está sendo. É muito triste, mas a gente tem que se virar de
alguma forma. Só Deus é quem vai nos dar uma luz”, declarou, na esperança de
que seu sustento não volte a ser manchado pelo óleo.
Ministro entra em praia atingida

Ministro do Turismo [de azul escuro] molha os pés em Muro Alto, em
Ipojuca, uma das localidades atingidas por óleo no Nordeste — Foto:
Reprodução/TV Globo
Durante visita à
praia de Muro Alto, em Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco, na manhã desta
sexta-feira (25), o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio,
afirmou que “as praias do Nordeste estão
aptas aos banhos dos turistas”. No local, ele chegou a entrar na
água e a molhar os pés.
Ainda no estado,
ele anunciou que o governo federal vai disponibilizar R$ 200 milhões do Fundo
Geral do Turismo (Fungetur) para ajudar pequenos empresários
prejudicados pelo desastre, através de linhas de crédito.
Amostras de água de praias
pernambucanas atingidas pelo óleo foram coletadas pelo
governo estadual na quinta-feira (24). O objetivo da análise é verificar se há
hidrocarbonetos, compostos orgânicos presentes no petróleo e que, em grandes
concentrações, podem causar danos à saúde.
A previsão é de que
os resultados sejam divulgados em novembro. Enquanto isso, a recomendação de
pesquisadores é que, nos locais onde a praia já foi limpa, o banho de mar está
liberado, mas, nos locais onde ainda existe óleo, as pessoas devem evitar
entrar na água.
Voluntários relatam intoxicação
Pessoas que
ajudaram a recolher o óleo encontrado nas praias pernambucanas relataram ter
sentido diversos sintomas após o contato com a substância.
Em São José da
Coroa Grande, em situação de emergência
reconhecida pelo governo federal na quarta (23), ao menos 17
foram socorridas a um hospital do município, com dor de cabeça, enjoo, vômitos,
erupções e pontos vermelhos na pele. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, há
outros dois casos relatados em Ipojuca, no
Grande Recife.
Pesquisas
Representantes de
15 prefeituras se reuniram com o governo estadual, na quarta-feira (23),
para planejar ações de prevenção e
contenção do óleo. Na ocasião, Pernambuco anunciou um edital de R$ 2,5 milhões para
12 projetos de pesquisa para analisar a toxicidade do
petróleo e seus efeitos na água, no ecossistema e na alimentação.
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